Primeiro dicionário Kaiowá-Português é lançado em Belo Horizonte, pela Editora Javali
Projeto reúne quase 6 mil palavras, além de notas culturais e linguísticas, e foi desenvolvido ao longo de duas décadas pela professora Graciela Chamorro, com colaborações de pesquisadores e pessoas indígenas e não indígenas
A Editora Javali lança a edição impressa do primeiro “Dicionário Kaiowá-Português” (704 páginas), projeto que faz um inventário de quase 6 mil palavras, além de notas culturais e linguísticas.
Organizada pela professora Dra. Graciela Chamorro, que se dedica à sua realização há mais de duas décadas, a obra lança luz sobre a visão de mundo dos povos Kaiowá, sua cultura, imaginação e pensamento, e foi construída a partir de pesquisas e esforços de pesquisadores e pessoas indígenas e não indígenas.
Esta primeira versão impressa do dicionário foi patrocinada pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – \Uni-BH, por meio da Lei de Incentivo à Cultural de Belo Horizonte, pelo projeto 0400-2020.
Nascida no Paraguai, Graciela Chamorro tem como língua materna o guarani e paterna o espanhol. Vivendo no Brasil desde 1977, iniciou sua interação com as comunidades Kaiowá e Guarani em 1983, quando chegou a Dourados, no Mato Grosso do Sul. Suas pesquisas acadêmicas, pessoais e artísticas têm especial interesse nos povos e línguas indígenas, em especial os Kaiowá. Em 2017, após o contato da professora com Assis Benevenuto, fundador e editor da Javali, uma editora especializada em obras de teatro e cinema, surgiu a ideia de transformar a pesquisa em um livro concreto.
Como explica Chamorro na apresentação da obra, “toda escrita é uma tentativa de representação da língua, ela possui hábitos e regras que são frutos de convenções ou que devem ser convencionados. Para convencionar, é preciso a participação de quem vai utilizar funcionalmente a modalidade escrita da língua, no caso do kaiowá, as professoras e os professores das escolas, estudantes e demais profissionais ou pessoas que usam a versão escrita da língua.”
A professora e organizadora da publicação enfatiza ainda que, “a língua kaiowá, por não ter ainda uma escrita convencionada, tem sido escrita à base da intuição de quem escreve, seguindo os conhecimentos gramaticais disponíveis da língua ou os parâmetros estabelecidos por línguas irmãs, que dispõem de um sistema de escrita convencionado. Na prática, o kaiowá tem sido escrito pelo alfabeto do guarani paraguaio ou como o fazem os linguistas do SIL na tradução da Bíblia, que tem sua referência local na Missão Caiuá”.
Pensado também como uma forma de preservação da memória e de difusão da percepção de mundo dos Kaiowá, o Dicionário contou com um time de colaboradores composto por professores universitários das áreas da linguística, lexicografia, história, antropologia, línguas originárias; e por indígenas Kaiowá, cujos notórios saberes foram fundamentais para a construção da obra. Alguns desses participantes são referências religiosas, culturais e políticas kaiowá, já outros, possuem uma trajetória escolar e acadêmica.
Estiveram presentes no desenvolvimento do projeto: a prof. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (UnB) como Diretora de Linguística de Línguas Tupi-Guarani; o prof. Andérbio Márcio Silva Martins (UFGD) como Diretor de Linguística da Língua Kaiowá; o prof. Jorge Domingues Lopes (UFPA) como Diretor de Tecnologia e Lexicografia de Línguas Indígenas; e mais de 25 colaboradores indígenas.
A publicação contém ainda ilustrações realizadas pelo desenhista Kaiowá Misael Concianza Jorge; mini-biografias e fotos dos/as colaboradores/as Kaiowás; textos de apresentação e o texto “Um esboço gramatical da língua Kaiowá”, escrito por Ana Suelly (UnB) e Andérbio Martins (UFGD). O design gráfico é do mineiro Vitor Carvalho.
SOBRE A AUTORA
Graciela Chamorro nasceu em Concepción, no Paraguai. Depois de concluir o segundo grau, veio para o Brasil, onde reside desde 1977. Estudou Música e Teologia no Recife, no Rio de Janeiro e em São Leopoldo; História em São Leopoldo.
Desde 1983, tem incursões no mundo indígena. Depois de anos de docência, em instituições eclesiásticas e universitárias, no Brasil – no âmbito da História, da Linguagem, da Música e da Teologia – foi para Alemanha (1999), onde continuou na mesma área de pesquisa e docência. Fez um Pós-Doutorado em Romanística, na Universidade de Münster.
Retornou ao Brasil no final de 2005 e atualmente é Professora aposentada de História Indígena na Universidade Federal da Grande Dourados. Na maior parte de sua produção bibliográfica convergem os resultados de sua pesquisa no âmbito da religião, da língua e da história dos povos “guarani” chamados históricos e dos contemporâneos; assim como a crítica ao expansionismo cristão e os impulsos da teologia feminista e intercultural. Há alguns anos criou um centro cultural na cidade de Dourados, o Casulo – Espaço de Cultura e Arte, onde acontecem oficinas, cursos, feiras, encontros, apresentações de teatro, música, dança, performances e culturas indígenas.
SERVIÇO
Lançamento do “Dicionário Kaiowá-Português” – Belo Horizonte (MG)
Data: 25 de outubro (quarta-feira), às 18h30
Local: Conservatório da UFMG, Auditório 1
Av. Afonso Pena, 1534, Centro – Belo Horizonte
Acesso gratuito
Preço de capa: R$150